NOUVELLE VAGUE FILME DE RICHARD LINKLATER É UM FILME IRRESISTÍVEL PARA OS CINÉFILOS POIS FAZ TRIBUTO A MOVIMENTO QUE REVOLUCIONOU A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
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Em 'Nouvelle Vague', Linklater leva espectador para Paris dos anos 1950 e dá 'aula encantadora' de cinema
Filme do diretor da trilogia 'Depois do amanhecer' faz tributo a movimento que revolucionou linguagem cinematográfica;
Por
Marcelo Janot
18/12/2025 03h30 Atualizado há 4 dias
No momento em que uma possível aquisição da Warner pela Netflix desperta o temor de que novos filmes sejam cada vez mais direcionados ao streaming em vez de salas de cinema, chega ao circuito brasileiro “Nouvelle Vague”, o tributo do diretor americano Richard Linklater ao movimento francês que revolucionou a linguagem cinematográfica a partir do fim dos anos 50.
Ao recriar ficcionalmente os bastidores das filmagens de “Acossado”, de Jean-Luc Godard, obedecendo aos mesmos parâmetros estéticos e narrativos da obra-prima em preto e branco estrelada por Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg, Linklater oferece bem mais que um simulacro: é como se o espectador fosse transportado numa máquina do tempo para uma Paris em que uma turma de jovens realizadores oferecia um novo e fascinante cinema.
Tirando alguns surtos de Godard e a irritação de Seberg, atriz americana que não estava habituada a trabalhar sem roteiro, as filmagens de “Acossado” são vistas sem grandes percalços.
“Nouvelle Vague”, portanto, pode focar em detalhes como os conselhos que Godard recebe de diretores como Rossellini e Melville, suas convicções sobre a liberdade criativa e a importância do trabalho coletivo, com cada membro da equipe identificado ao surgir na tela.
Com esta aula encantadora sobre o fazer cinema, Linklater (autor da nouvellevaguiana trilogia “Antes do amanhecer/pôr do sol/meia-noite”) agrada quem é familiarizado com Truffaut, Godard e cia e pode encorajar o espectador leigo a expandir seus horizontes.
Fonte:https://oglobo.globo.com/rioshow/cinema/guia/em-nouvelle-vague-linklater-leva-espectador-para-paris-dos-anos-1950-e-da-aula-encantadora-de-cinema.ghtml
Um filme irresistível para os cinéfilos
Nouvelle vague narra Godard num conturbado set de filmagens, em busca de algo nada modesto: criar outras formas de expressar o real por meio de som e imagem. Os diálogos são frases de efeito ditas de fato e, sem presunção, obra furta-se a emular a linguagem do cineasta francês
Publicado 18/12/2025 às 17:46
Por José Geraldo Couto, no Blog do IMS
Fico sempre com um pé atrás diante de filmes que buscam reconstituir “fatos reais” e/ou retratar figuras históricas conhecidas. Esse ímpeto mimético tende a apequenar o próprio cinema, reduzindo-o a uma função meramente ilustrativa. O filme passa a ser avaliado por sua capacidade de imitar caninamente o real: “Olha como o ator fulano está igualzinho ao sicrano que ele interpreta”.
Dito isso, vamos a Nouvelle vague, o filme de Richard Linklater que retrata os bastidores da produção de O acossado (1960), de Jean-Luc Godard, marco do cinema moderno e uma das obras fundadoras da… Nouvelle vague.
Vemos ali, em ação, a personalidade efervescente e imprevisível de Godard (Guillaume Marbeck), às voltas com um produtor duro na queda (Georges de Beauregard, encarnado por Bruno Dreyfürst), uma equipe atarantada e duas estrelas de personalidades díspares (Jean Seberg/Zoey Deutch e Jean-Paul Belmondo/Aubry Dullin). A missão nada modesta da trupe: subverter o cinema convencional e criar uma nova forma (ou novas formas) de expressar o real por meio de som e imagem.
Nosso fetichismo
A despeito do que foi dito no primeiro parágrafo, é forçoso dizer que se trata de um filme irresistível para os cinéfilos (entre os quais me incluo), talvez por conta de certo desejo fetichista de estar ali, no epicentro de uma revolução estética, política e moral. E nos deixamos levar prazerosamente por essa onda, que o próprio Godard maduro ironizaria invertendo a frase. “Une vague nouvelle”, disse ele, transformando o adjetivo em substantivo e vice-versa: uma vaga novidade.
Assim, o filme nos leva não apenas aos sets de filmagem, mas também à redação dos Cahiers du cinéma, às conversas com ídolos como Rossellini e Bresson, aos cafés e ruas do Quartier Latin, numa reconstituição cuidadosa expressa num preto e branco que mimetiza a imagem do filme original, cujo frescor, aliás, segue incólume.
Para que não se quebre o encanto, praticamente todos os diálogos são frases de efeito ditas de fato em alguma ocasião, ou expressam de modo didático as transgressões buscadas por Godard. E aqui há um paradoxo: fala-se, por exemplo, do faux-raccord e dos cortes no interior do plano, mas o filme de Linklater não os pratica em nenhum momento, resignando-se a uma decupagem essencialmente convencional, “invisível”. É um filme clássico celebrando um filme moderno.
Truffaut, o ex-amigo
Tudo somado, é uma obra a ser vista e comentada, um bom desfecho para o ano cinematográfico. Para os espectadores paulistanos, o lançamento vem com um bônus considerável: o Cinesesc programou uma mostra completa da obra de François Truffaut.
Um complemento ou contraponto mais que interessante seria o documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle vague (2010), de Emmanuel Laurent e Antoine de Baecque, disponível em DVD da Imovision. Ali se investiga mais a fundo essa espinhosa amizade/inimizade criativa que sacudiu a história do cinema.
'Nouvelle Vague', de Linklater, revive o método de Godard
Longa retrata os bastidores das filmagens de "Acossado", de Jean-Luc Godard, um marco do movimento cinematográfico francês
Concordei com tudo isso. E as primeiras imagens do filme de Richard Linklater pareciam justificá-los. De cara, surgem na tela alguns atores parecidos com as pessoas nomeadas: Godard, Truffaut, Chabrol etc. É incômodo, porque a distância entre o original e a representação é óbvia. Parecem mais caricaturas que outra coisa.
Aos poucos, sem que se perceba, em parte pelo acúmulo de sinais da época, essa sensação se dilui. É sobretudo a presença de Godard, seu humor, modo de encarar a vida e a arte, o desejo irreprimível de fazer alguma coisa diferente que passa a comandar a cena. Isso desde quando batalha para produzir "Acossado". E mais ainda desde quando começa a filmagem. Ali, cada um de seus cúmplices (ou vítimas, conforme se vejam as reações) também se mostra, seja no receio de estarem numa roubada – pois tudo aquilo é inusitado e amadorístico – ou no prazer de trabalhar descontraidamente, pelas mesmas razões.
Para Godard, a invenção tem um método, que consiste em desmontar todos os mitos, manias e ordenações que faziam do cinema uma arte, a seu ver, lenta e inutilmente hierarquizada. Nesse sentido, ele segue Roberto Rossellini estritamente: o cinema é arte, é feito de ideias, não de técnica. O dinheiro deve ser um acessório, nunca o centro.
O que o "Nouvelle Vague" de Linklater exibe é a prática radical desse método. Sabemos das histórias: o quanto a equipe se espantou quando, já no primeiro dia, Godard suspendeu a filmagem após duas horas de trabalho. O quanto esse método deve ter deixado de cabelos brancos o produtor, Pierre Braunberger, enquanto Jean Seberg temia pelos efeitos desse filme no futuro da sua carreira.
Hoje sabemos que Godard realizou ali uma revolução análoga à que Jacques Lacan introduzia na psicanálise com suas sessões curtas. Ambos são procedimentos de ruptura.
E o que Linklater mostra, de seu interior, plano após plano, é essa ruptura acontecendo. É um filme que toma forma, dia após dia, sem renunciar, em instante algum, a uma liberdade conseguida a duras penas.
SEGREDOS DA FILMAGEM
Hoje, algumas das histórias dessa filmagem são conhecidas. Por exemplo: o carrinho dos correios com uma abertura discreta para a lente. Ali ficava o fotógrafo, Raoul Coutard, câmera na mão, enquanto Godard empurrava a engenhoca. Juntos, eles filmavam Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo na avenida dos Champs Elysées, sem que ninguém se desse conta disso.
O que acrescenta "Nouvelle Vague" a isso? Apenas a possibilidade de ver essa ideia em ação, sendo feita. É muito diferente de simplesmente sabermos que isso aconteceu mais ou menos desse jeito. Linklater não filma uma velha filmagem, mas mostra em toda sua extensão o sentido da revolução godardiana.
Se retomar essas práticas não é um exercício fetichista ou saudosista, podemos pensar que Richard Linklater está olhando para o cinema do presente. O cinema hoje é controlado por um maquinário triunfante, com equipes enormes (e em grande medida inúteis), com efeitos e orçamentos capazes de impressionar o espectador, mas cujo sentido profundo é reordenar o cinema em torno daquilo que Glauber Rocha chamava de "espetáculo" ou "a reprodução mentirosa do mundo".
Sessenta e cinco anos se passaram, a técnica mudou, o modo de produzir filmes também. Ninguém poderia fazer uma filmagem de rua como Godard sem correr o risco de levar um processo vultoso por uso indevido da imagem de algum passante captado ao acaso. Velhos métodos de produção voltaram a se impor, com roupas novas. A produção cinematográfica se enrijeceu novamente, passou a colocar os números (custo e lucro) acima de qualquer outra consideração (a arte).
De Linklater pode-se dizer o que for (eu, em particular, nunca me entusiasmei demais com seus filmes), mas sempre esteve combatendo, à sua maneira, esse modo de ser da indústria. Por exemplo, quando filmou por 10 anos a evolução de seu filho. Não é o único caso: o seriado inglês "Adolescência" mostrou há pouco que é possível usar a tecnologia moderna para transmitir ao público sensações originais, uma aventura, de certa forma.
O que "Nouvelle Vague" sugere não é olhar para a nouvelle vague com uma lágrima nos olhos por conta de um passado tão rico, mas reencontrar um espírito capaz de novamente engajar o cinema na aventura da arte. Arte amadora, isto é, feita por amor. Não é tarefa fácil, mas também não é impossível.
“NOUVELLE VAGUE”
(2025, Produção França/EUA). Direção Richard Linklater. Elenco: Guillaume Marbeck, Zoey Deutch, Aubry Dullin. Em cartaz no Una Belas Artes 2, Centro Cultural Unimed-BH Minas, Diamond Mall e Pátio Savassi.
Fonte: https://www.em.com.br/cultura/2025/12/7318764-nouvelle-vague-de-linklater-revive-o-metodo-de-godard.html
Novos pôsteres para ‘Nouvelle Vague’ de Richard Linklater, estrelado por Zoey Deutch & Guillaume Marbeck – Acompanha a produção do icônico filme francês da Nouvelle Vague de Jean-Luc Godard, 'Breathless'
Fonte:https://www.reddit.com/r/movies/comments/1po39gs/new_posters_for_richard_linklaters_nouvelle_vague/?tl=pt-br
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